Desigualdade social é um dos principais fatores da criminalidade.
- Ezequiel Schukes Quister
- 26 de mai. de 2020
- 2 min de leitura

Hoje de manhã resolvi ligar a televisão para assistir ao jornal e me deparei com um desses programas policiais, sensacionalistas, o qual mostrava uma reportagem sobre um “suspeito”, repito, “suspeito” de tráfico que tinha sido morto em uma ação policial. Resolvi assistir até o final a matéria e, o que mais me chamou a atenção, além do fato da polícia ter fuzilado uma pessoa apenas “suspeita” de cometer o referido crime, foi a reação do apresentador, o qual, com tom jocoso sob uma música de fundo, agradecia a Deus e à polícia por ter matado aquela pessoa que, segundo ele, era um vagabundo que prejudicava nossa sociedade.
Há décadas sofremos com a questão da violência de rua, dos “crimes de sangue” e com o tráfico, bem como com a repressão à classe mais pobre. Esses programas policiais, como o citado anteriormente, só mostram esse tipo de crime, os quais, por serem mais impactantes, levam a população à crença de que a violência desse gênero é o único mal de nossa sociedade.
Quanto aos crimes de “colarinho branco”, por assim dizer, tem certa repercussão midiática em um determinado momento apenas, depois são esquecidos (para quem duvida, lembrem-se do “mensalão”, o qual, mais ninguém fala atualmente). Cito o mensalão porque é emblemático. Demorou tanto para o julgamento que algumas penas foram prescritas em virtude dessa demora. Outras foram reduzidas pelas metade, devido à idade do acusado, como foi o caso do ex-vice-governador de Minas Gerais, Walfrido dos Mares, que, devido à essa questão da pena pela metade, também está prescrita.
"Não precisamos de um Direito Penal melhor, mas de algo melhor que um direito penal". (Gustav Radbruch).
Quero deixar claro que não estou defendendo bandido! Porém, creio que a criminalidade, principalmente essa citada no início do texto, em suas diversas causas é um fenômeno humano que tem como principal elemento a desigualdade social.
Acredito que a somatória de fatores como 1) um congresso em que grupos conservadores têm obtido cada vez mais espaço e defendido interesses próprios em detrimento ao coletivo; 2) da manutenção de um capitalismo elitista, que retira dos mais pobres as chances legítimas de ascensão na escala social e os predispõem a partir para subculturas criminais; 3) de um direito penal de fundo classista, permeado por uma classe média (e alta) que cria regras e seleciona os tipos criminalizantes a partir dos comportamentos das classes mais pobres; 4) de um discurso político-midiático que reforça as ideologias da defesa social legitimando ações repressivas do Estado (principalmente da polícia e outros órgão de controle) contra grupos estigmatizados e, não finalizando a questão, 5) de uma maior desigualdade social que assola principalmente as classes menos favorecidas, cria-se um terreno fértil para a derrocada da igualdade e justiça social no Brasil de hoje, “pois à atrofia deliberada do Estado social corresponde a hipertrofia distópica do Estado penal: a miséria e a extinção de um têm como contrapartida direta e necessária a grandeza e a prosperidade insolente do outro”, como disse Löic Wacquant.
Em uma pesquisa rápida sobre fatores de criminalidade em um país com o Canadá, por exemplo,
encontrei os mesmo pilares citados anteriormente. É claro que isso não explica a criminalidade no geral, já que essa é um fenômeno bem complexo. Contudo, vale a reflexão.





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